INTEMPESTUOSO

INTEMPESTUOSO

O vento chega, entra sem pedir licença Bate portas e janelas, rodopiando leva tudo à sua frente Solta no ar papéis, poeira, traz até mim cenas de minha infância Eu ali parada... Contemplando.

Passa por mim, me envolve me sufoca, sem pedir atrevido,abusado me faz um carinho ousado. Revolve meus cabelos, fustiga meu rosto, sussurra aos meus ouvidos. Arrepia minha pele, levanta a minha roupa
Eu ali parada... Sentindo

A chuva chega cúmplice do vento, vem chicoteando as árvores deixa-as se retorcendo.

Invade tudo, molha o telhado, a vidraça... entra em mim o cheiro da vida. Borbulhante!
Eu ali parada... Ofegante
Eu ali parada... Ofegante

Molha o meu corpo, deixa-me ensopada, torna tudo transparente. Desce pelo decote acariciando meu seio, sinuoso escorrega pelas curvas do meu corpo. Indecente! Expõe o que está oculto de modo escandaloso, desnuda minha alma... Eu choro, não se percebe, é silencioso só lágrimas de puro desgosto misturado às gotas da chuva. Estremeço...

Retorno muitas vezes àquele lugar, o vento vem com a chuva, me invade insinuante, envolvente, Lava tudo, o meu corpo, a minha alma tudo se acalma, restam apenas lembranças.

Eu fico ali parada...Vazia, Em busca de mim!

"Intempestuoso'

Poema de Ester Martins Furlam
imagens :Pinterest